A memória local sobre a produção de cestaria aciona o período onde a comunidade provia a maior parte de suas necessidades com recursos do próprio território. As tramas eram feitas, principalmente, para uso na roça e na pesca. Um uso frequente era o transporte de alimentos, insumos e materiais. As peças também eram utilizadas para acondicionar objetos diversos nas moradias.
A colheita de toda matéria-prima para a cestaria é feita na lua minguante e deve sempre preservar a matriz da planta. A maioria das espécies é de plantas perenes da Mata Atlântica. Os criadores buscam utilizá-las de modo a garantir a sustentabilidade da prática e o respeito ao ambiente.
Após a colheita, cada cipó é trabalhado de uma maneira específica. Porém, as seguintes fases são comuns para a maioria dos processos:
A depender da matéria-prima. O timbopeba, por exemplo, rende de seis a oito fibras, que podem ser tramadas assim que colhidas e desfiadas.
Quase sempre ao sol, principalmente no caso de taquara e imbé. Mas há exceções, como o cipó caboclo, que deve ser tramado logo após a colheita para não endurecer.
Com o auxílio de uma faca, as fibras são raspadas para aquisição de uma textura lisa.
Definido o número de esteios – que são as fibras que dão base para a peça – passa-se ao desenvolvimento das tramas. Um esteio ímpar é chamado de “capitão” ou “coringa” e é entrelaçado em toda a base da trama.
Pode envolver camadas de verniz ou resina. Não é indispensável, uma vez que, se a matéria prima for colhida no tempo certo e passar pelo processo de secagem correto, a peça terá durabilidade mesmo se não for submetida à finalização com materiais sintéticos.
*Para mais informações sobre os materiais, incluindo variações de suas denominações e utilizações, consultar a listagem disponibilizada na aba REFERÊNCIAS.
Os objetos produzidos pelos antepassados mais lembrados pelos criadores contemporâneos são os samburás, cestos para carregar alimentos e artigos para pesca, como iscas; o tipiti, utilizado para prensar farinha; e o covo, artefato de pesca que é imerso na água para a captura de peixes.
Atualmente, os caiçaras de São Gonçalo produzem tais objetos também atrelando-os a outros usos, como o decorativo. As técnicas utilizadas na concepção e execução dos objetos no passado são ainda utilizadas para criação de outras peças, tais como luminárias e chapéus.
A reapropriação das técnicas conjuga diversos propósitos, tais como o desejo de substituição de utensílios de plástico e a preocupação com a transmissão dos saberes do território. Pessoas e lugares são recordados e reinventados nesse processo dinâmico, caracterizado pela relação de inspiração e respeito com o ambiente.
As memórias e demais informações sobre a produção de cestaria em São Gonçalo foram produzidas em colaboração com:
Nedir da Conceição, um dos mais experientes na criação de cestaria do território;
Nedina dos Santos Conceição, filha e aprendiz de Nedir ;
Ernani João de Santana, responsável pela inserção do propósito de reaproveitamento de materiais na cestaria;
Robson Luiz Moreira Silva,
mais conhecido como Robinho, que retomou e aperfeiçoa técnicas tradicionais da cestaria.
Também houve consulta a material bibliográfico que está listado na aba REFERÊNCIAS.
Articulação local de Mauriceia Pimenta Tani.
Ernani João de Santana – (24) 999 336 524
Robson Luiz Moreira Silva – (24) 992 671 885
Nedina dos Santos Conceição – (24) 24 998 483 869
Mauriceia Pimenta – (24) 999 751 288