As memórias sobre a produção de cestaria no Quilombo do Campinho da Independência mobilizam a utilização de recursos do próprio território para atividades voltadas à reprodução social do grupo. Tais atividades envolviam a produção de objetos de cunho utilitário e atualmente abarcam a produção voltada para lojas de artesanatos. Nestes estabelecimentos – que integram-se a outras iniciativas de geração de renda da comunidade – é possível entrar em contato com obras produzidas a partir de técnicas e estilos autorais diversos.
A colheita da matéria-prima é feita na lua minguante, com atenção às quantidades necessárias e à necessidade de preservação, evitando-se, assim, o desperdício. As espécies utilizadas são da Mata Atlântica e têm ciclo perene.
Cada cipó é trabalhado de maneiras específicas após a colheita. A taboa é um material abundante e muito utilizado no quilombo. Depois de colhida no charco, deve ser tratada da seguinte maneira:
O material colhido deve ser deixado de três a cinco dias sob o sol, sendo preservado do sereno.
As fibras são raspadas para aquisição de uma textura lisa. Assim, se tornam mais fáceis de manusear.
Etapa em que o material é entrelaçado, dando origem às tranças.
As tranças são entrelaçadas ou unidas com auxílio de agulha, gerando o formato da peça.
Aplica-se líquido selador para aumentar a durabilidade e evitar pragas nos objetos.
No Campinho, muito se fala da matriarca Tia Madalena, que nasceu no Saco do Mamanguá, uma comunidade caiçara próxima do Quilombo. Quando se casou e passou a residir no Campinho, Madalena começou a idealizar uma casa de artesanato para reunir e comercializar os trabalhos da comunidade. As pessoas do território produzem, há gerações, uma quantidade e diversidade considerável de peças. As primeiras eram voltadas para o uso na roça e na pesca, e também foram trocadas por alimentos, vestimentas e utensílios. Posteriormente, os objetos passaram a ser comercializados na cidade, o que envolvia um deslocamento custoso para as pessoas quilombolas. Além dos custos com transporte, a venda no centro histórico muitas vezes implicava em lucro para os comerciantes da cidade e baixa remuneração do trabalho quilombola.
Diante disso, Tia Madalena organizou mutirões, arrecadou materiais e, junto com outras pessoas – com destaque para as mulheres – levantou a primeira casa de artesanato do lugar. As atividades se fortaleceram de tal maneira que outras casas foram criadas, reunindo trabalhos de diferentes núcleos familiares. A diversidade das peças e a riqueza de técnicas tornaram as produções cada vez mais conhecidas. Atualmente o artesanato se constitui como uma importante fonte de renda de muitos quilombolas, que buscam vender suas criações diretamente aos interessados, evitando assim a presença de intermediários na cadeia de comercialização.
Neste território, é possível encontrar uma ampla diversidade de objetos de cestaria; desde os mais tradicionais – balaios, peneiras, tapitis e fruteiras – até adornos voltados para usos diversos, como bolsas, potes, leques, além das peças em formato de animais. Dentre estes, se destacam as galinhas feitas de taboa, de timbopeba, de taquaruçu. As galinhas são o carro chefe da criação contemporânea de cestaria no Campinho, que também compreende outros animais, como peixes, borboletas e pássaros.
As memórias e demais informações sobre a produção de cestaria no Quilombo do Campinho foram produzidas em colaboração com:
Adilsa da Conceição Martins, da primeira Casa de Artesanato do Quilombo do Campinho;
Margarida e Ismael Alves Conceição, da Casa de Artesanatos da Família Conceição;
Dilma Bento dos Santos, da casa BND Artesanatos;
Nelba Brasilicia, do artesanato da Nelba.
Também houve consulta a material bibliográfico que está listado na aba REFERÊNCIAS.
Articulação local de Daniele Elias
Casa de Artesanato do Quilombo do Campinho – (24) 999 879 296
BND Artesanatos – (24) 998 235 881
Casa de Artesanato da Família Conceição – (24) 999 430 281
Artesanatos da Nelba – (24) 999 644 657
Daniele Elias – (24) 998 611 380