Museu Tramas Daqui

Origens e atualidade nos modos de tramar o mundo

Neste território, as memórias sobre as ajaka – nome que se dá para as cestarias Guarani Mbyá – são diversas. A produção é originalmente mobilizada por princípios míticos: a palha trançada se relaciona com a forma de organização do mundo Guarani. Assim, mitos de origem e geração de renda se conjugam na produção da cestaria indígena. A apreciação dos objetos deve levar em conta os constrangimentos aos quais os indígenas são submetidos, como a proibição de cultivos em reserva ambiental.

As criações Guarani, em geral classificadas socialmente como artesanato, constituem a principal forma de levantar recursos em muitas aldeias. Com isso, o povo em questão segue aprendendo com suas pessoas mais velhas. A transmissão de saberes diz respeito ao trato com o sagrado, como aqueles relativos ao Nhemongarai e aos ritos da Casa de Reza. Os ensinamentos também são colocados em prática considerando-se a busca de suprimento de necessidades materiais do grupo, o que impulsiona a produção voltada para os juruás – os brancos.

"dia de ir para a mata precisa de tempo para olhar... para se conectar com tudo e entender o que a mata pode dar naquele dia"
Adilson Tupã
Articulador local do projeto

O PROCESSO

A colheita da matéria-prima é feita na lua minguante, em dia que haja tempo para conexão com a mata e seus seres. Este processo pode levar horas e só se deve colher o que será usado.

As espécies utilizadas são da Mata Atlântica e têm ciclo perene. A preservação e a sustentabilidade ambiental nos processos são fatores que participam da constituição de qualquer produção artesanal no território. Tais demandas contemporâneas se integram ao modo como os Guarani se pensam e se recriam, ou seja, como participantes de um mundo onde natureza e humanidade não são entidades distintas.

 

As seguintes fases de produção são comuns para a maioria dos processos:

O material colhido deve ser deixado de três a cinco dias sob o sol, sendo preservado do sereno. O cipó imbé é submetido a um processo diferente após a colheita, O material é mergulhado na lama, onde permanece de três a cinco dias para manter-se maleável e com sua cor escura.

Tiras lisas com tamanhos muito similares entre si são formadas.

Com o auxílio de uma faca, as fibras são raspadas para ficar com textura lisa.

Esta fase é opcional, pois a utilização de materiais com cores cruas também é uma modalidade de produção. Contudo, os compradores juruás têm preferência por cestos mais coloridos, então recorre-se ao tingimento, normalmente feito com anilina e água quente.

Depois de secas, as fibras são tramadas e resultam em produções contendo os paraí, grafismos com significados diversos.

Passa-se água nas tiras do material, que são amolecidas e encaixadas na borda das ajaka, criando um acabamento onde as pontas ficam imperceptíveis.

Materiais mais utilizados:

*Para mais informações sobre os materiais, incluindo variações de suas denominações e utilizações, consultar a listagem disponibilizada em REFERÊNCIAS.

Ajaká Paraí 

As tramas formam grafismos inspirados em figuras míticas e que se diferenciam de acordo com a destinação dos cestos. Aqueles inseridos em ritos sagrados possuem motivos relacionados ao que se agradece a Nhanderu, principal divindade Guarani. Nas ocasiões rituais, as ajaka utilizadas possuem tons naturais e servem para receber os alimentos que fazem parte das cerimônias.

"Paraí significa desenho. tem vários significados, mas tudo é trilha. só que cada um deles vai falar como será esse caminho. este é trilha com onda, tem aquele que é com montanha e tem muitos outros. quando a gente vê, a gente já entende."
Cacique Pedro

O que se cria para os ritos sagrados não é feito para os juruá. A partir disso, se dá o uso de cores diversas e variedades de formas, tamanhos e paraí nas ajaka, voltadas aos brancos, que preferem as peças com materiais tingidos e em formas diversas.

As memórias e demais informações sobre a produção de cestaria em Itaxi Mirim foram produzidas em colaboração com:

  • Pedro Mire Benite, Karay Mirim, cacique da aldeia Itaxi Mirim;

  • Iracema Garcia, Jaxuca, uma das mais velhas no feitio de ajaká;

  • Alminda Maria da Silva, Pará Mirim, guarani também bastante experiente no feitio de ajaka;

Também houve consulta a material bibliográfico que está listado na aba Referências.

Articulação local de Adílson Tupã, guarani que transita entre as aldeias Itaxi Mirim e Arandú Mirim, localizada no Saco do Mamanguá.

Contatos no Território

Cacique Pedro – (24) 998 351 578

Adílson Tupã – (24) 998 166 716